terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amar


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. Eu achei lindo esse poema!Ele toca o ser humano bem na alma!
    bjos
    By. Larissa Martines

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  2. muitos Lindos esses Textos
    adoreii Todos ;D

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  3. Boa noite, querida amiga.

    Lindo poema. Esse autor foi demais...

    Um grande abraço.
    Desejo-lhe muitas felicidades.

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